quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Ódios de estimação #8

Gente que se acha mais que os outros

Há um tipo de pessoas que se acha mais que os outros. Mais inteligente, mais trabalhadora, mais correctos, mais tudo. Detesto essas pessoas. 
Na faculdade, havia um rapaz com quem tive discussões verdadeiramente épicas. Ele era o responsável de um dos departamentos da AE do qual eu fazia parte. Mais tarde, ele foi presidente da AE e eu era a presidente do Conselho Fiscal. O gajo sempre, mas sempre, teve a mania que "ele é que é o Presidente da Junta". Não tinha qualquer respeito pelas ideias dos outros e sempre se achou muito inteligente quando era um merdas. Quando saiu da faculdade, teve vários trabalhos até arranjar o tachinho no Ministério da Educação que tem hoje (o Ministro foi seu professor). Acontece que há uns dias o encontrei no aeroporto de Madrid. Ele vinha de Bruxelas, como me fez questão de dizer (uhhhhh, em vez de estares a tratar das listas dos professores vais a reuniões que servem para... zero) e tinha feito escala em Madrid antes de ir para Lisboa "cansadíssimo". Não me via há 6 anos, e qual foi a primeira pergunta que me fez? Se eu tive férias. Quando eu respondi que sim senhor, que tive, riu-se com ironia e pôs aquele ar de superioridade e disse "que sorte, eu em dois anos só tive 10 dias de férias". O meu namorado, que me conhece bem demais, deu-me logo um toque com medo que eu rebentasse, mas eu fui mais querida ainda e disse: "sorte não, trabalho para isso, mas tenho a certeza que tens outras regalias lá no teu cargozinho pago por todos os portugueses". O gajo não respondeu mais, soube que ia ficar mal, porque até de Madrid a Lisboa lhe pagam a viagem em Business. 

Este é um exemplo, como há muitos mais. Pessoas que são tão amigas de julgar os outros que se esquecem de olhar para as próprias vidas, achando-se a última bolacha do pacote porque trabalham até tarde (eu não trabalho até muito tarde porque julgo que a eficiência vale mais do que estar a olhar para o computador até às 8 da noite, prefiro ir para casa ver o meu namorado, jantar, divertir-me, etc.), ou porque sabem muita coisa (não sabem nada), ou porque acham que a educação e os valores deles são os melhores. 
A minha família sempre fez questão de ensinar a humildade como um dos valores mais importantes. Eu considero que temos de ser a melhor pessoa que possamos ser, sem passar por cima de ninguém. Eu não me acho melhor que ninguém, mas detesto que me façam de estúpida. Eu também estudei (e até fui muito boa aluna), também tenho um trabalho interessante (e até bastante valorizado neste momento), também falo outras línguas, e mesmo que não tivesse nada disso, e fosse uma residente do pior bairro social de que há memória, NINGUÉM teria o direito de se achar mais. 

Sem comentários:

Enviar um comentário