quinta-feira, 14 de maio de 2015

Bullying

A propósito do vídeo que se tornou viral de umas miúdas a baterem num miúdo, tenho a dizer que isso é gente má, não são coitadinhos. São maus! 
Quando eu andava na escola, não se chamava bullying àquilo que passei.
Chamava-se "miúdos que fazem brincadeiras" ou "miúdos mauzinhos". A resposta não era nas redes sociais, era a avó em casa a dizer "deixa lá, não lhes ligues" (e com razão). Quando o meu pai decidiu ir à escola já era tarde demais. Acho que ele não percebia a gravidade (eu não contava o que efectivamente se passava) e quando viu o inferno a que era sujeita todos os dias agiu. 
Não serviu de nada, nessa altura as escolas tinham como resposta "tens de te integrar mais com os colegas".
O primeiro episódio de bullying que tive foi ainda no infantário. Miúda dócil e sem maldade, deixei que me acusassem de uma coisa que não fiz e fui castigada por isso. 
Na escola primária, o passatempo favorito de alguns colegas era o "vamos deixar de falar com ela por nada". Quem fazia isto era a minha "melhor amiga" segundo a própria. Anos e anos nisto. 
No 5º e 6º ano foi quando tudo piorou. Chamavam-me tudo, todos os dias. TODOS os dias. Um dia era marrona (sempre fui boa aluna, mas nunca marrona), copiona (claro, marrona um dia, copiona no outro), feia, gorda, mete-nojo, menina do papá, mimada (quem me conhece sabe que é coisa que jamais fui), betinha, horrorosa, porca, de tudo. Foi muito mais violência psicológica que física, nunca me bateram efectivamente, mas um dia resolveram rasgar-me a saia e fiquei de cuecas no meio da escola. Constantemente riam-se da minha figura. Nunca me deixaram ser simpática. Uma vez convidei para o meu aniversário, todos disseram que iam, ninguém foi. 
As minhas supostas amigas, assim que começava o pesadelo viravam a casaca para não serem conotadas comigo. Passava semanas sem falar com ninguém. 
Aos 12 anos mudei de escola e a coisa melhorou. A turma era outra, conheci outras miúdas que ficaram do MEU lado como verdadeiras amigas e não deixaram voltar à humilhação constante de que fui vítima dos 5 aos 12 anos. 
Aos 13 anos tive o meu primeiro ataque de pânico. Aos 15 fui internada no hospital porque não conseguia parar de vomitar (era o meu sintoma de ataque de pânico). Foi-me diagnosticada uma depressão e fiz terapia até aos 20 anos. 
A minha auto-estima na adolescencia era abaixo de zero. Os ataques de pânico eram causados por ver-me ao espelho. O meu passatempo favorito era chorar. Os meus pais estavam desesperados. 
A terapia ajudou-me muito (mesmo!) e aprendi a gerir de forma diferente os meus ataques. Não tenho um ataque há 7 anos (o último foi quando terminou uma relação).
Mas ainda hoje luto para ter auto-estima. Só que hoje sei que eu fiquei mais forte, sei que eu era superior a todos eles. 
De todos, eu fui quem teve mais sucesso, a todos os níveis. A burra das negativas que me chamava marrona vive de rendimentos mínimos, nunca lutou na vida. 
Aqui há uns tempos, decidiram promover um encontro. Não quis ir, não me apetece. Mas sorri, quando discutiram onde ir, quando vi os trabalhos que têm, quando vi que eles riram lá atrás no 5º ano, mas eu riu AGORA.

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