quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Retrato de um país... à rasca

Gosto muito dos Deolinda. Adoro ouvi-los e por a sua música a tocar em casa quando recebo amigos de outros países. As músicas são divertidas, a voz da Ana Bacalhau é fantástica e os Deolinda transmitem portugalidade. Recentemente, este que é um grupo que eu admiro, fez uma música (que ainda não tive oportunidade de ouvir) de seu nome "Parva que sou" e que transmite o sentimento de muitos jovens portugueses que são trabalhadores precários.
Sou solidária para com estes jovens, mas tenho uma opinião muito impopular sobre este tema (e, pasmem-se, considero-me uma pessoa centro-esquerdista). Quando leio/vejo reportagens sobre a precariedade e o desemprego de jovens licenciados, onde os mesmos falam na sua dificuldade em encontrar um emprego, quase sempre há uma coisa em comum: uma licenciatura que toda a gente sabe que tem pouca ou nenhuma saida em Portugal. Eles são licenciados em Relações Internacionais, outros em Música via Ensino, outros ainda em Biologia - vertente aves do Minho. Meus amigos, escolher um curso superior não tem como único imput o que nós achamos que é muito giro, há que pensar nas reais saídas desse curso no país em que estamos sob pena de... não encontrarmos emprego.
Felizmente licenciei-me num curso que tem uma empregabilidade de quase 100%, tal como todos os cursos oferecidos pela minha faculdade. Penso que isto se deve ao facto de serem cursos bastante polivalentes e com muita procura por parte de empresas. Saí da faculdade já com emprego e a maioria dos meus amigos também. Mas o meu sonho não era tirar esse curso, apesar de ter adorado seguir a área que segui. Até ter de optar no 10º ano por uma área, queria tirar Astrofísica. Sim, é verdade, o meu sonho era passar a vida a observar estrelas e planetas e estudar o Universo (eu sei, muito nerd). Ainda hoje devoro documentários sobre estes temas. No entanto, quando tive de optar, optei por ter emprego. Desculpem mas é mesmo assim. As pessoas dizem que quando alguém é bom arranja trabalho. Concordo. Mas se em Economia ou Gestão ou Engenharias são os 300 melhores que são empregados, num curso como Astrofísica ou Política Social, se calhar é só o melhor que arranja um emprego de jeito, e muitas vezes fora do país.
A culpa é só dos jovens? Óbvio que não. A culpa, na minha humilde opinião, é de sucessivos governos que não tiveram coragem de fechar cursos que obviamente não têm qualquer saída em Portugal, ou que já têm demasiados licenciados (caso dos professores). Temos não sei quantos licenciados em cursos que não dão para nada, mas depois o CEO da Jerónimo Martins diz que não tem talhantes.
Realmente somos um país à rasca, mas eu recuso-me a classificar a minha geração de geração à rasca. No dia em que em Portugal se deixe de tratar por Dr. um simples licenciado, e se comece a pagar o trabalho consoante a falta que faz, aí talvez isto ande para a frente. Até lá, as pessoas vão continuar à espera que o Governo resolva tudo, recusando-se a ser empreendedoras ou a sujeitar-se a empregos que não são bem o que queriam. E deixam de fazer manifestações por tudo e por nada à espera que terceiros resolvam os seus problemas. E já nem falo dos desempregados profissionais. Esses para mim, no dia em que rejeitassem um emprego, ficavam sem subsídio, porque se o subsídio não durasse o que dura, as pessoas em vez de ficarem em casa a ver TV porque "ainda tenho ano e meio de não fazer um cu e receber", começavam a procurar trabalho e a contribuir para tirar este país de onde está, porque quem acham que o meteu lá? Não foram os governos, fomos nós, portugueses!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Countdown

E agora, numa melhor nota, e porque já é dia 17 em Madrid...

FALTAM 9 DIAS!!!

É oficial...

Cansei-me. A sério. Todas as manhãs, em vez dos meus normais 25 minutos, demoro 1h a despachar-me. Não tenho vontade de conduzir os 30km que me levam à origem do meu inferno pessoal: o meu querido local de trabalho. 
Trabalho para a mesma instituição há 4 anos. Sempre tive óptimas avaliações, mudei de área várias vezes porque se lembravam "ah e tal, aquela miúda é que era mesmo boa para isto". Deram-me desafios, mudaram-me para Madrid e deram-me o que considerei uma grande oportunidade. Prometeram-me algo por mudar para a outra área, já que os RH da instituição onde trabalho consideraram que não era altura de me aumentar o salário. E não cumpriram. Mais uma vez. 
Já parei de contar as vezes que me prometem algo e depois "ah e tal, o próximo ano vai ser difícil, mas de certeza que te compensaremos". O que é engraçado é que depois recebo e-mails a publicitar como os resultados foram os melhores de sempre. Chateia-me. Muito. Mesmo.
Digam-me, esforçamo-nos, mostramos trabalho e resultados. Chegamos às 8h, lidamos com as limitações. Cansamo-nos, temos olheiras. E depois não compensa. Porque sempre haverá alguém filho ou amigo ou um grandessímimo lambe botas que nos passa à frente. Mais uma vez. E nós, que levamos sempre com a conversa do "tens tido um percurso brilhante, e só com 25 anos!" ficamos no mesmo sítio. 
Por isso digo que é oficial: estou à procura de emprego. E mesmo à séria. E desde que comecei, mais ou menos desde a 5a passada quando soube que o meu bónus foi 48% do prometido, até já estabeleci alguns contactos interessantes. 
Amigos que ainda não me vieram visitar: apressem-se porque definitivamente Madrid já deu o que tinha a dar, e até ao fim do ano, vou dar uma volta a outro lado. Guaranteed...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Assumir o que se sente

Nos últimos dias tenho aproveitado para pensar muito. E claro que, como sempre que penso muito, fiquei deprimida. Estou sozinha há 3 anos, mas parece que foi ontem. Sou daquele tipo de pessoas que adora mostrar o que sente, pelos amigos. Ponto. Não me canso de dizer aos meus amigos o quanto são importantes para mim, que gosto muito deles. Mas a capa está sempre aqui. É opaca, e não deixo que caia muitas vezes. A maioria das pessoas que me conhecem sabem que sou divertida, faço o que me apetece, saio a noite, viajo e tenho um emprego estável na área que sempre quis. O que não sabem é que por dentro estou um caco. Por trás das piadas e boa disposição está uma tristeza enorme, que se reflete na minha forma física e no meu amor por tudo quanto seja massas com natas e chocolates.
Cheguei à brilhante conclusão que foi tudo culpa minha. Toda a dor que fui acumulando ao longo do tempo deriva de não ter assumido o que sentia muitas vezes. Deixei que me partissem o coração e sim, foi culpa minha. Porquê? Porque podia saltar fora daquela "amizade" em que eu estava sempre disponível e ele tinha a companhia de uma pessoa com os mesmos gostos e não ter passado um ano com a esperança que ele percebesse que eu era a pessoa ideal para ele. Parva, a sério. Eu não era a pessoa para ele, e se tivesse assumido que gostava dele na primeira semana nada tinha acontecido. Mas aconteceu e a vida continuou. Dois anos depois fui novamente magoada e fiz outra vez o papel de "sim, claro que éramos só amigos, eu não queria nada, o que aconteceu foi só porque sim" quando o meu coração dizia "gosto de ti, quero dar uma hipótese a isto, deixa-me mostrar quem eu sou". Hoje prometi a mim mesma que tenho de assumir tudo o que sinto, especialmente perante a mim.
E deixo aqui a letra de uma música de um dos meus grupos favoritos de sempre, os Coldplay, que tenho ouvido non-stop ultimamente e reflete o que realmente sinto cá dentro:

A warning sign
I missed the good part and I realized
I started looking and the bubble burst
I started looking for excuses

Come on in, I've got to tell you what a state I'm in
I've got to tell you in my loudest tones
That I started looking for a warning sign

When the truth is
I miss you
Yeah the truth is
That I miss you so

A warning sign
You came back to haunt me and I realized
That you were an island and I passed you by
When you were an island to discover

Come on in, I've got to tell you what a state I'm in
I've got to tell you in my loudest tones
That I started looking for a warning sign

When the truth is
I miss you
Yeah the truth is
That I miss you so
And I'm tired
I should not have let you go

So I crawl back into your open arms
Yes I crawl back into your open arms
And I crawl back into your open arms
Yes I crawl back into your open arms

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Just move on

Com o tempo aprendemos muitas coisas, mesmo muitas. Uma delas, tal vez das mais importantes, é que a importância que damos a certas coisas vai diminuindo com o tempo. E por certas coisas refiro-me às coisas que nos chateiam, que nos deixam tristes e magoados. 
O tempo é um óptimo remédio. Cura desgostos amorosos, aproxima-nos de quem realmente gosta de nós, afasta-nos de quem não merece a nossa estima. E com o tempo só aprendemos a lidar com isso. 
Quando saí de Portugal foi notório. Pessoas que eu considerava próximas, que chegaram a fazer drama do facto de eu vir para Madrid, acabaram por me tratar como se vivesse no fim do mundo e não a 1h de avião. No inicio isso incomodou-me, é óbvio. Mas hoje já não significa nada para mim. E porquê? Porque os meus verdadeiros amigos ainda me ligam, ainda me convidam para os aniversários (sabem que eu faço o esforço por ir), e cada vez que estou em Lisboa e saio com eles é como se nos tivessemos visto no dia antes. 
O tempo ensina-nos a lidar com tudo, a "move on" e a dar mais importância a nós mesmos. Uma espécie de egoísmo positivo que só nos leva a bom porto, porque podemos por fim ser selectivos nas pessoas que escolhemos para nos rodear. 
Sabem que mais, desde que estou aqui fiz amigos de muitos países, e muitos deles já voltaram. Engraçado que quando falo com a minha amiga colombiana, é como se estivessemos estado juntas ontem, a proximidade é a mesma, apesar de termos convivido por menos de um ano. Já com algumas pessoas que convivi anos de faculdade, que considerava grandes amigos, hoje são mais conhecidos com os quais já não me identifico.
Realmente, o tempo é muito engraçado...

Countdown...

18 DIAS!!! Já está tudo a postos para a minha chegada ao RIO!!!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Donos da verdade

Há muita coisa que me tira do sério, há mesmo. Uma delas é a intolerância que muita gente tem para com as ideias dos outros. Vivemos numa era de egoísmo, e cada qual tem a tendência de pensar e de só compreender o que para si é o correcto. É muito raro pormo-nos no lugar dos outros e tentar abrir a cabeça para entender porque a outra pessoa pensa dessa forma, e porque toma certas decisões.
Mais do que entender é preciso respeitar. Acredito piamente que se fosse esta a forma de vida de toda a gente, tudo seria mais fácil e melhor. Os conflitos que criamos normalmente derivam deste egoísmo latente por toda a sociedade. No século XXI somos cada vez mais "judgemental" e criticamos quem não segue a mesma forma de vida que nós, até ao ponto de tomar posições radicais contra certos indivíduos / tribo urbana.
Acreditem, não digo isto só em relação a quem é conservador, mas sim também em relação aos liberais. Dou um exemplo. Aqui há uns anos, tornou-se moda (sim moda) ser do Bloco de Esquerda. A partir daí, todos eram donos da verdade, todos eram super liberais e quase nenhuns liam os programas de governo do Bloco de Esquerda (pasmem-se). Pois eu dei-me ao trabalho de ler, e é ridículo, mas ai de mim dizer isto em público.
Outra moda que surgiu mais ou menos nessa altura foi ser "contra" a Igreja Católica. Atenção, não sou católica, não frequento qualquer igreja ou religião, portanto não sou pessoa de interesse nesta questão. O que não aceito é que de repente toda a gente que é católica seja vista como "beatos" ou "pedófilos" ou ignorantes. Tal como não aceito que um católico me critique pela minha opção de não seguir nenhuma religião, é apenas uma questão de não ter encontrado ainda nenhuma via para a minha espiritualidade (que está cá, acreditem).
Basicamente, o que quero dizer é que a liberdade de expressão é muito bonita e tal, mas que tal respeitarmos os outros? Afinal de contas somos todos seres humanos. Não é por uma pessoa tomar uma opção diferente que é pior pessoa... é apenas diferente. Temos de aprender a tolerar os outros. Temos de aprender a ser mais abertos e não querer que toda a gente seja como nós, sob pena de ser ostracizado.
Deixemo-nos todos de ser "donos da verdade" e tenhamos a humildade de ouvir aqueles que nos rodeiam e pensar sobre o que nos torna especiais - sermos seres únicos e pensarmos todos de forma diferente.

Countdown...

23 DIAS!!!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Finalmente...

 Finalmente tomei coragem e resolvi publicar um dos meus textos de ficção...


Hoje acordei diferente. Não consigo dizer o que é, mas sinto que algo mudou. Como todos os dias, olho-me no espelho. Não consigo detectar nada, mas no entanto é óbvio que tudo está diferente.
Abro a janela e respiro profundamente. A cidade cheira bem, cheira a Junho, a Sol e a Mar. Amo esta cidade, e só agora o noto realmente. Um sorriso brota dos meus lábios.
Olho para a cama e vejo-te. Dormes profundamente com o teu ar de anjo que me deixa totalmente indefesa. Só tens esta expressão quando dormes, e eu adoro observar-te. Tu sabes disso.
A tua mão procura a minha presença junto a ti e volto para a cama. Abraças-me e uma sensação de pura felicidade atravessa o meu corpo. Estou tão feliz que me sinto flutuar.
De repente tudo é óbvio. Já sei o que mudou em mim. Já não sinto medo.
Vivi toda a vida com medo de tudo. De não vencer, de me perder na vida, medo de aviões e de palhaços, medo de me dar e medo de sentir o amor verdadeiro e de me magoar. Medo de ser eu mesma e ser rejeitada. Medo de te perder. Mas hoje, enquanto me abraças, percebo que já não sinto medo. Sei que ficarás comigo porque me amas como eu sou, com todos os defeitos e qualidades, e sei que te amo por quem tu és. Nunca nos escondemos através de máscaras. Sabemos tudo um sobre o outro e não há nada que quebre esta ligação, este amor.
A minha insegurança foi-se, sou livre e sinto-me imbatível.

Countdown

24 dias...