terça-feira, 23 de outubro de 2012

Momentos de Mudança

Quando tinha aí uns 13 anos decidi que o meu sonho era ser jornalista. Assim daquelas à antiga, que vão para as zonas de conflicto, que fazem reportagens daquelas mesmo boas, daquelas que uma pessoa vê e pensa "bolas, nem sabia que isto existia". Ou então daquelas que faz entrevistas a grandes personalidades, que os faz corar, que é implacável mas educada. 
Nessa altura, haviam três pessoas que eram a minha absoluta referência: o Miguel Sousa Tavares, a Margarida Marante e a Cândida Pinto. Nessa altura, escrevia cartas e cartas para a Grande Reportagem, a comentar artigos. Uma dessas cartas chegou a ser publicada, e eu não cabia em mim de contente. 
Hoje, a Margarida Marante já não está entre nós, depois de nos últimos anos ter completamente desaparecido, o Miguel Sousa Tavares é comentador e escritor e eu não consigo ler os seus livros. A Cândida Pinto, no entanto, continua a ser uma referência para mim. Apesar de ter seguido uma coisa totalmente diferente, continuo a acreditar que tenho um bichinho do jornalismo aqui dentro, e cada vez que vejo alguma coisa dela valido porque continuo a achar que ela é a melhor. 
Isto tudo para dizer que ontem vi o Momentos de Mudança, o novo programa da Cândida Pinto e da sua equipa de também grandes jornalistas. Há muito tempo que não via uma coisa de tanta qualidade. O tema ontem era dado a sensacionalismos, pessoas que vivem com o HIV. Normalmente, quando se faz este tipo de programa, sobre seropositivos, entrevistam-se prostitutas, toxicodependentes, etc. A equipa do Momentos de Mudança quis realmente contribuir para acabar com preconceitos e seguiu a vida de uma miúda de 19 anos, alentejana, que nasceu saudável mas que ficou com o HIV através da amamentação, a Alexandra. A mãe da Alexandra não sabia que era seropositiva, não sabia que o virus se podia passar através da amamentação, tinha de ir a Lisboa para dar os tratamentos adequados à Alexandra. Os pais da Alexandra não correspondiam ao estereotipo de seropositivos. Casados há 20 anos, ficou por saber como foram infectados. Mas a sua vida no dia a dia é igual à de tantos outros portugueses. Excepto na parte em que vivem com um estigma gigantesco, com 300 Euros por mês (o custo dos medicamentos ultrapassa os 500) e com uma grande vontade de dar uma vida normal à Alexandra. 
A Alexandra tem muitos sonhos, entrar na faculdade e tirar um curso superior, casar, ter filhos. E é impressionante o optimismo desta miúda, mas também o realismo de saber que os seus pais podem ficar muito doentes e morrer a qualquer momento e é bem possível que ela não chegue a encontrar ninguém nem a ter filhos. Já entrou na faculdade. Espero sinceramente que alcance todos os seus sonhos. Ela merece. 
E obrigada à SIC e a esta equipa por nos dar a conhecer estes casos, estas histórias. Faz falta. 

Sem comentários:

Enviar um comentário