segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Serviço público e outros mitos

Muito se tem falado nos últimos meses sobre a possível privatização da RTP e em que parâmetros se iria proceder à mesma. O óbvio para mim é que um dos dois canais "públicos" deve ser privatizado. Ou então um deve desaparecer. 
Penso que é muito difícil determinar o que é o chamado "serviço público". Muita gente defende que a RTP2 é o verdadeiro serviço público, passa programas culturais, cobre desportos que mais ninguém cobre, passa filmes feitos na Roménia e no Bangladesh. Muito bonito, diferente. Acontece que ninguém vê a RTP2, ou vê programas esporádicamente. Eu mesma de vez em quando vejo algum documentário da National Geographic, ou os Simpsons. Mas aqui mesmo é que está, devería a RTP2 passar os Simpsons? Em que medida passar uma série que está disponível no cabo faz sentido num canal dito público. Por outro lado, a RTP2 não é rentável. Ora, a maioria das pessoas diz "se é público não tem de ser rentável". Discordo totalmente. E discordo ainda mais porque há um outro canal "público" que tem publicidade privada e que também não é rentável. E que tenta ser igual aos canais privados. Qual o sentido disto? Qual o sentido de ter 2 canais que pararam no tempo, que pagam uma fortuna a pivots e apresentadores, e que são dos menos vistos? 
Agora o ponto de se é público não tem de ser rentável. Tem sim. E tem porque os impostos deveriam ser vistos como um investimento e não como dinheiro deitado fora. E infelizmente ainda não percebemos isto em Portugal, seja em relação à televisão, ao serviço nacional de saúde, à educação. Eu explico. Se pago impostos, é porque espero no futuro ter um retorno a esses impostos, vulgo "reforma". O Estado deve então aplicar esses impostos de forma a que no futuro tenha mais dinheiro do que tem agora, ou seja, deve rentabilizar o investimento (impostos). O investidor (todos os portugueses que pagam impostos) deve ter direito a receber o seu investimento mais um bónus por ter emprestado dinheiro ao estado durante tanto tempo. Acontece que isto não está a acontecer. E não acontece porque o dinheiro não é bem investido, pelo menos no caso da televisão pública. E, na verdade, em nenhuma vertente. Se eu pago impostos que financiam o estudo das criancinhas, essas criancinhas devem conseguir trabalhar no futuro para pagar impostos que devolvam o meu capital investido. Além disso, devem contribuir para aumentar a produtividade do país. No serviço nacional de saúde não vou falar agora, penso que existe ainda hoje confusão no que diz respeito ao conceito de estado social. Seguimos o modelo britânico e poderíamos aprender com os nórdicos, mas enfim.
A questão para mim é esta: é um mito pensar que uma televisão como a RTP2 faz serviço público quando só serve para meia dúzia de pessoas, e a RTP1 é mais privada que outra coisa no conteúdo. Para mim, feche-se a RTP2 e altere-se o modelo da RTP1 para ficar mais parecida com a BBC (sempre a referência). Mas também digo, adopte-se o modelo de gestão da BBC... 

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