quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Wikileaks e a hipocrisia

Nos últimos dias temos assistido à revelação dos textos e telegramas aos quais um australiano de personalidade duvidosa teve acesso e que põem em causa a diplomacia norte-americana. Nesses textos estão coisas com tanto interesse para a humanidade como o facto de o Kadhafi usar botox e o Berlusconi gostar de "meninas" (grande novidade). No entanto, também se encontram lá informações de como o BCP tentou trocar informações sobre contas iranianas desde que pudesse continuar a sacar dinheiro do Irão ou ainda de como o embaixador britânico comentou com o americano que os McCann eram mesmo suspeitos de ter morto a filha Maddie (que chapada de luva branca a todos os que criticaram o trabalho da Polícia Judiciária).
Julian Assange pôs em causa toda a diplomacia actual e em risco relações internacionais que já de si são complicadas. A sua sede por protagonismo leva a consequências que ninguém se dá ao trabalho de analisar verdadeiramente. Para o comum dos mortais, Assange é um herói, para mim é um irresponsável com um ódio ao Ocidente quase igual ao do Bin Laden. Vejamos, trata-se de um senhor para o qual as mulheres dos países ocidentais e pacíficos são "desprovidas de intelectualidade, cabeças ocas" e que só tem interesse por mulheres de países "com história política complicada". Lixou-se... Aqui há uns tempos foi à Suécia e foi convidado para passar a noite com duas suecas em dias diferentes. Estas senhoras (sempre soube que a Suécia é um país onde as mulheres são umas púdicas...) acusam-no agora de "sexo surpresa" na manhã seguinte e de se ter recusado a fazer um teste de HIV. Parece ridículo, mas é verdade. Julian Assange está preso por ter tido "sexo surpresa". Arranjaram uma história recambulesca para prender alguém que pôs em causa as relações internacionais simplesmente porque não o podem prender pelo verdadeiro crime que cometeu: divulgar documentos confidenciais na internet. Porque não o podem prender por isto? Por causa da liberdade de expressão.
Sou uma defensora da liberdade de expressão, mas considero que a minha liberdade acaba onde começa a dos outros. Hoje em dia qualquer pessoa pode dizer num jornal o que lhe vem à cabeça, podendo prejudicar outros e muitas vezes de forma grave e injusta. Considero isto um crime. Considero que não podemos defender tudo em nome de uma liberdade de expressão que pode arruinar vidas. Há alturas em que se deve manter uma certa hipocrisia.
Nas relações profissionais, por exemplo, temos de ser hipócritas por vezes e sorrir àquela pessoa que não suportamos, em nome de manter o nosso nivel profissional. É óbvio que os embaixadores comentam entre si como o Sarkozy parece ridículo ao lado da Carla Bruni, ou que a Merkel é feia que dói, mas quem tem o direito de divulgar tudo isso na internet? Na minha opinião ninguém.
Em relação ao Assange é óbvio que estas acusações são hipócritas... Não o podem acusar de nada, por causa da liberdade de expressão, então acusam-no de sexo surpresa. Acabaram por lhe fazer um favor... Ao menos na prisão ninguém o vai matar... Já cá fora, o caso é outro. E não são só os EUA que poderiam tratar de fazê-lo desaparecer do mapa, já que acusou também a Rússia de ter morto o espião envenenado que morreu em Inglaterra, Israel de não sei quantas coisas, enfim, meteu-se com os poderosos. E isso poderá ser-lhe fatal...

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